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Tangência do impossível - I
Procuro nesta noite
um lugar onde possa encontrar respostas
um espaço de onde se alcance o firmamento
e que possa ser encontrado
de olhos fechados, com as pálpebras unidas
e a voz em uníssono
num mistério pululante...
Procuro nesta noite
fria e magnética
um instante em que a tua pele
irrompa do tempo
e aveludadamente se misture comigo
numa simbiótica vertigem de futuro
num devaneio irrefletido do momento
sumptuosamente loucos, transgressoramente lúcidos
e ainda assim, vítimas deslumbradas da tangência do impossível.
Pedro Barão de Campos.
Primavera
Duy Huynh - Moonlight Muse, 2013
acrylic on wood, 24"x24"
|
Porque penso em ti?
Cativaste o espaço
Onde as searas são de sonhos
E as colheitas de aventura e poesia
Onde as searas são de sonhos
E as colheitas de aventura e poesia
Chegaste a mim
Como a brisa suave que vem do mar
Cultivaste a cor e semeaste o amanhã
Fizeste comigo o que a primavera faz às plantas e aos animais e às paisagens
E germinaram em mim essas sementes
Fortificaram-se as raízes
Estenderam-se por dentro do que sou
Unindo-se aos músculos, correndo aqui
Vivendo no frenesim
Como se uma criança adormecida algures
Despertasse de entusiasmo em mim.
Como a brisa suave que vem do mar
Cultivaste a cor e semeaste o amanhã
Fizeste comigo o que a primavera faz às plantas e aos animais e às paisagens
E germinaram em mim essas sementes
Fortificaram-se as raízes
Estenderam-se por dentro do que sou
Unindo-se aos músculos, correndo aqui
Vivendo no frenesim
Como se uma criança adormecida algures
Despertasse de entusiasmo em mim.
Pedro Barão de Campos.
Melodia
Duy Huynh - A Chorus From The Brain Forest acrylic on wood, 32"x40", sold |
A luz do sol
Entra pela janela do quarto
Há uma distorção ténue na sua direcção
Invade o espaço indefinido em que estou
E faz de mim um refém do futuro
Onde os espasmos de lucidez
Me sacodem e pintam
De realidade
A luz do sol
Quimera que transcende o instante
É delírio perdido no mundo dos teus olhos
Em que aterrei fascinado, nesse voo nocturno
Rota de desconhecido
Quimera que transcende o instante
É delírio perdido no mundo dos teus olhos
Em que aterrei fascinado, nesse voo nocturno
Rota de desconhecido
A luz do sol entra
Os raios luminosos parecem estar suspensos no ar
Linhas rectas alinhadas lado a lado
Como pontes ilusórias que me ligam a esse mundo
E criam, esperançosamente, o acreditar
Os raios luminosos parecem estar suspensos no ar
Linhas rectas alinhadas lado a lado
Como pontes ilusórias que me ligam a esse mundo
E criam, esperançosamente, o acreditar
O acreditar…
Que és a melodia
De uma sinfonia sublime.
De uma sinfonia sublime.
Pedro Barão de Campos.
Do meu lugar em ti
É do meu lugar em ti
Que hoje te falo
Essa rua, essa avenida, esse país
Esse sublime e pulcro instante
Que é tempo e espaço
Num território impossível
No transcendente da razão
É do meu lugar em ti
Que desabrocha a cor
E se arquiteta a fantasia
Com que noite e dia
Entre a humidade em gotículas
Germinam as flores do jardim
É do meu lugar em ti
Que acordo de ventania
E sou o sopro rompante, a respiração explosiva
A vertigem deslumbrante
De olhar-te assim, paisagem doce e solene, a cada dia
É do meu lugar em ti
Que partem todos os navios da utopia
Em aventureiras descobertas de horizontes novos
Tão longe, tão perto, tão fundo…
Esse lugar secreto
Onde alucino de futuro
É no meu lugar em ti
Que a quimera e o excesso ganham forma
E se esboçam na substância de existir
Além da metáfora
Que a quimera e o excesso ganham forma
E se esboçam na substância de existir
Além da metáfora
É do meu lugar em ti
Que voam velozes os pássaros da alma e do sonho
E contemplo, comovido, o teu olhar
Como se fossem as pinturas de um mundo
Onde tudo faz sentido
Que voam velozes os pássaros da alma e do sonho
E contemplo, comovido, o teu olhar
Como se fossem as pinturas de um mundo
Onde tudo faz sentido
É do meu lugar em ti
Que hoje te falo
Desse inexequível amanhã
Dessa intangível rota
Onde caminhei sempre perdido
E nunca poderei permanecer além do tempo de um sorriso
Que hoje te falo
Desse inexequível amanhã
Dessa intangível rota
Onde caminhei sempre perdido
E nunca poderei permanecer além do tempo de um sorriso
É nesse lugar em ti
Que me abandono
Como se fosse uma folha caída no outono
E que navegará, frágil e passageira
À mercê de um rio indistinto
Que flui intenso e selvagem
Atravessando-se às fronteiras do real
Rumo ao precipício do fim.
Que me abandono
Como se fosse uma folha caída no outono
E que navegará, frágil e passageira
À mercê de um rio indistinto
Que flui intenso e selvagem
Atravessando-se às fronteiras do real
Rumo ao precipício do fim.
Mas repousará sempre
O sonho
O sonho
Do meu lugar em ti.
Pedro Barão de Campos.
A ti, o meu impossível...
Twilight Dancers, 2013, Acrylic on wood panel, 30"x30" Duy Huynh |
Esculpo o silêncio
Em redor do teu corpo
Esvoaçam os meus sonhos a tocar-te
Tanto eu desejava ter-te comigo
Abraçar-te na noite gelada
E fazer de ti
A minha morada
Os dedos esquivam-se
Na nocturna solidão
Preenchem o espaço nas teclas negras e gastas da velha máquina de escrever
E em cada letra, em cada gesto, morrem mais um pouco
Em cada respirar
Terminam-se
Ao tentar descrever-te
A ti...
O meu impossível...
Pedro Barão de Campos.
Se pudesse...
Duy Huynh - Journey Within A Journey II, 2012, acrylic on wood, 32"40". |
Se eu pudesse separar-me de mim
Ignorar o colete de forças que me agarra
Ao doloroso fim que há-de vir
Eu poderia ser feliz.
Se eu fosse capaz de correr mais do que a minha sombra
Ou ela ficasse estática e suspensa no ar circundante ao meu movimento
Sei que seria menos múltiplo aqui
Eu poderia ser feliz.
Se o espaço fosse reduzido ao habitat dos teus lábios
E a tua língua dançasse como um rio por entre as margens
Tudo serias a hipérbole do sonho e a utopia da fascinação
Então, eu seria feliz.
Mas não consigo separar-me de mim, nem correr assim tão depressa
Se ao menos pudesse correr devagar, mas para ti
Talvez assim, pudesse ser feliz.
De olhos nos olhos com o meu reflexo no espelho
Dialogo como num monólogo de ausência, no limiar do desassossego...
Acordem mãos vacilantes!
Apertem-se em mim!
Esmaguem esta dor cortante
Afastem-me das correntes
Libertem-me!!
Quero ser feliz!
Pedro Barão de Campos.
Inebriante
Garden Garment
acrylic on wood, 40"x32", Duy Huynh
|
A pele
Só a pele bastaria
Mas há também o perfume
Essa mescla de vida em intensidade
E a expressão
Sublime
Só a pele bastaria
Mas há também o perfume
Essa mescla de vida em intensidade
E a expressão
Sublime
Os passos
Num caminhar dançante
Subtileza de garça
Entre as ervas da fantasia
À procura de sonhos
Num caminhar dançante
Subtileza de garça
Entre as ervas da fantasia
À procura de sonhos
Perante ti
Nada mais a existir
Nada mais a procurar
Toda tu preenches
Os espaços infinitos
E o tempo explode
Toda tu preenches
Os espaços infinitos
E o tempo explode
O tempo torna-se ridiculamente vazio
Sem medida...
Deliro
Vejo cores em frequências impossíveis de enxergar
Bebo dos teus lábios
Macios, frutados, faiscantes
E apaziguo-me na levedura da sensação
Os sentidos em febril eloquência
Despertam, endoidecem, hiperbolizam-se
São maiores que o seu tamanho
São sem tamanho
Inebriante
Tu és o meu tempo no espaço
És a direcção irreal na arquitectura impossível do amanhã.
Pedro Barão de Campos.
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