Fechada a porta ao amanhã...
Clausura de inocência
Liberto a asa que no levante se ergue alta
E o espelho onde se olha o cego
Reflecte as belas cores que ele nunca verá.
Explosão de silêncio...
Acontecido o murmúrio de um beijo.
Aqui, além, agora, já, os demónios gritam!
Gritam...
Pelo desejo desse beijo que não foi
Fantasmas que esvoaçam à altura dos sonhos
Desses sonhos tão perfeitos, tão singelos, tão redondos...
Sonhos daqueles de quem nunca sonhou...!
Espera-se... o encanto...
Espera-se... a demora da espera...
O antes de algo... que depois vai embora...!
E enquanto tanto tempo...
O poeta deita-se nos enquantos demorados da vida
Olha a porta aberta
Inventa uma janela para a maresia
Sente o fulgor a cessar, o vento a soprar,
É tempo de soltar amarras, abrir velas e zarpar.
É que,
O Marinheiro ao leme decifra a ilusão do espanto...!
Quanto mais próximo o poeta se navega, pensa ou revela
Mais distante fica a nitidez do seu olhar.
Quando se afigura à sua frente a perfeição da musa
Algum vento lhe sacode a alma
Lhe afasta a chama
E dá fim ao rubro aveludado querer sentir
Que uma nudez explosiva
Subtraiu de si...!
É então que emerge na penumbra a metáfora
Essa coisa vã, sem sentido algum
Que no seu ventre leva sempre todos os sentidos possíveis
Que o algo pode ter.
Quando o barco encontrou o farol na tempestade
Era tarde demais para atracar
O porto estava cheio, a ondulação demasiado forte
E não havia mais lugar para um barco aventureiro
Poder ficar.
Sem espaço, nem porto de abrigo
A epopeia teve de continuar no mar alto.
Que o beijo... é tão longe...
E a saudade... queima tanto...
E a esperança... de incoerência imensurável...
É insuflável de ausência...
Por um vento de eloquência que já não há.
Nunca há espaço
Para esse sentir diferente
Nunca há tempo
Para o tempo preciso desse espaço
E a noite é sempre metáfora
De uma dolência que permanece
Aqui...
Aqui onde estou.
Junto com as palavras.
Solto... já sem palavras
Só metáforas...
Só metáforas...
Só metáforas vertem de mim.