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O jogo do fingir


As mãos agitam-se
Em cima da mesa, um pano verde.
Há sensações distintas a perder de vista
E cartas nunca lançadas
À espera do momento perfeito
Em que um jogo se vence.

Enquanto me divertes com palavras
Os olhos revolvem o espaço à procura de nada.
Do tempo a que pertenci
Os gestos reais... irreais...
De um castelo erguido
Sobre o frágil areal da noite
Em que a lucidez era companheira..!

Mas, agora, deixei-me levar pela cegueira
E nego o que antes afirmara.
Minto para esquecer uma verdade
Que um olhar brilhante
Nem sempre é real
E olhos com luz
Podem mentir.

Fecho os olhos!
Uma paisagem diferente
Impede-me de relembrar
Impede-me de expulsar
Esta dor que perdura
De falar-te do que vi
De supor o que ficou por ver
De pensar
De sentir o queimado do que me feriu
Tanto que ficou suspenso no ar
Num jogo em que fiquei rapidamente sem cartas para jogar
Sem soluções
Nem estratégias...

E encontrei o fim
Nas teclas da loucura
E o medo
Que ficou
Não me deixa um só dia
A solidão que ficou
Tudo o que se desaba sobre os meus olhos

Quem dera que estivesses aqui
Quem me dera que ouvisses tudo o que te disse
Quem me dera que o futuro conhecesse o teu lugar
E a ausência fosse apenas o verso da folha de um livro
Onde a poesia se escreveria com a melodia da esperança...

Mas não...!
Neste jogo o tempo é sagaz e vocifera em endofasia
Murmúrios de poetas, pensadores e especialistas da ilusão...

Quando estavas comigo
Pensava que estarias mesmo ali
Mas no fim da ronda
Nada mais errado!
O tempo era dividido
O espaço era multiplicado
E o sentimento calculado
Era o mais sumptuoso truque de ilusionismo que já vira...

O jogo do fingir.

Pedro Campos.

1 comentário:

fazila disse...

Muito belo o teu poema, exprimes como ninguem as dores das nossas almas...as maleitas que se acumulam ao longos das vidas ...sim, as vidas que vivemos e nao damos conta...e sempre que acaba um grande amor,morremos, morremos para depois renascermos como a Fenix das cinzas...sem medo de queimarmos as asas outra vez! Lindo