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Constatação de mim



Tenho sono e durmo
Que mais há para fazer numa noite assim?
Ou ficar acordado a entreter os dedos
Ou copiosamente desmoronar-me em degredo
Na constatação de mim

Tenho sono e caio
Neste colchão tão macio e suave e amigo
Que na vida há poucos colchões assim
Tão confidentes
Tão correctos
Já não há pessoas assim

Tenho medo e fujo
O sono é o meu abrigo
Aqui faço de conta que morro
E com o Sol acordo renascido

Mas, ao anoitecer volta a dor a doer
E o peito queima, a água corre, o suor desce
E a solidão que fazia tudo para não ver
É de novo viva, aparece!

Assim,
Tenho sono e sonho
Que em mim se reformule um universo
Em que os paradigmas impludam e se invertam
Talvez amanhã um outro Eu possa acontecer
Sem pensar tanto, nem destruir tanto
O mundo simples de apenas sentir

Que tudo o que quero
É ser como as árvores do bosque são
Árvores de verdade, com folhas de verdade e vida de verdade
Sem dinheiro para gastar, nem horas para cumprir, nem tempo para pensar
Nem pernas para fugir

Ser apenas o puro sublime instante
Em que o ser é sem adjectivos nem poesias
Quero acordar livre do próprio Eu
Que o Eu seja livre de tantos mins

Tenho sono e durmo
Que mais há para fazer numa noite assim?
Ou ficar acordado a fingir que estou aqui
Ou copiosamente desmoronar-me em degredo
Na constatação de mim

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