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O lugar do medo






Estou aqui
Onde a noite se precipita
Líquido como um beijo
Leve como o vento
Sou a sombra que não vês
Numa rua que nunca cruzaste.


Rodopio, como num turbilhão
Desloco-me à velocidade do pensamento
Mas o pensamento morreu!
E agora...
O que ainda faço aqui?


Existes tu..
Existo eu...
Muitos mais guardam-se ainda
Dentro do pensamento que morreu


Além, nada mais existe
Só uma utopia
Só uma ausência
Só um silêncio
E então? Para quê?


Para nada! Um vão ser...
Um espaço incolor
À procura de um espectro
E os olhos, onde estão?


Os olhos, esses, redondos, vidrados, num "flow" permanente...
Para que lado estão voltados afinal, no momento em que deixas de respirar?


Será que olham para as paisagens inventadas em cartolinas recortadas com formas da natureza?
Será que se preenchem das visões cinematográficas de quem foram? Serão ainda capazes de olhar?
E o lado de dentro? Onde está o céu azul a enfeitar-te do lado de dentro? 



Mas...
Há qualquer coisa que persiste
Um dedilhar de cores
Um frenesim dentro do sangue a fervilhar
Um correr de alegria atravessando-se ao tempo
A melodia em crescendo a acompanhar-me
Um breve sorriso, o Sol a encadear-te os olhos
As tuas pernas tão perto das minhas pernas
A janela paralela ao infinito
Um piano a tocar... e os dedos nas teclas... acorde após acorde
E o amanhã, sempre ali, ao alcance de um salto!
Mas o salto nunca acontece
Onde está o medo.
E agora...?



Agora, estou aqui, numa estranha espera
Onde a vida se precipita
Líquida como um beijo
Leve como o vento
Sou uma cor que não vês
Numa rua onde nunca foste além da esquina dos teus medos.
Mas a vida é prisioneira
Onde está o medo.


E qual será o lugar do medo?



Pedro Barão de Campos.

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